quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Chinandega

Falta-nos menos de uma semana para deixar a Nicarágua. A península junto ao golfo Fonseca sempre esteve na minha lista, mas contava ir visitar o vulcão Cosiguina e aproveitar para visitar o resto. Por diversas casualidades, acabei por nunca efectuar esta caminhada com o Quetzaltrekkers.
Depois de toda a viagem que fizemos pelo sul e este, regressámos a Léon. Na casa existe pouco espaço, nenhum quarto, então estamos a compartir o escritório… que infelizmente abre às 10h. Infelizmente para quem quer dormir, mt bom para quem quer passear. Como  assino por baixo de ambos, é bom que não tenha opção…
Então agora, que o tempo começa a ser curto para as últimas visitas, acordei de manhã e disse: hoje vou até Chinandega! 

Do terminal um micro-bus uma carrinha para 15 pessoas, leva-nos em 45 min até Chinandega. Tiro o lonely planet da estante que temos em casa, neste apenas com a Nicarágua como destino, conseguimos ter algumas dicas e até o mapa da cidade. Em destaque um museu, o mausoléu dedicado à mãe de Ruben Dário e as diversas igrejas cheias de cor.

Quando cheguei à estação deChinandega, apanhei um triciclo. Normalmente o que faço, de forma a não ser enganada, é perguntar a um local sempre o preço, antes de o perguntar aos taxistas, motoristas de triciclos,etc… Este ofereceu-me o valor que me tinham indicado, entrei logo no seu triciclo. A viagem é pouco cómoda e não gosto muito deste meio de transporte, mas tem a sua vantagem: ser mais lento que o habitual, o que nos permite desfrutar da viagem muito mais.


Após me sentar, o rapaz, pergunta-me de onde sou. Melhor tenta advinhar… Por norma perguntam-me muitas vezes se sou espanhola, este começou com:  "americana?". Quando neguei, surpreendeu-me com: “Sueca?”. Devem ser os meus longos cabelos castanhos, olhos castanhos e o 1,60 m a denunciar-me, bolas!!! Respondi-lhe que estava mais próximo, mas ainda longe. “Itália?”, mais próximo…”França?” mais próximo..”Indonésia?” : ?!?!?!? lol, estavas a ir melhor, é bem próximo de França…”Rússia?”… não  mais para oeste…”Espanha”, muito bem, quase lá, faz fronteira com Espanha e não é Andorra ou França..????...”Não sei”, da terra do melhor jogador do mundo…”Argentina?”.. ok do melhor jogador do Real Madrid…”Portugal?”… nem mais… Os Nicas adoram o futebol espanhol e penso que quem ouviu falar de Portugal é mesmo por essa via…. Mentira, algumas pessoas conhecem Fátima e em Léon existe mesmo a escola de Jacinta e Francisco :D, mas por norma, quem conhece um, não reconhece o outro….

Passeio-me pelo mercado. Um mercado na rua central, que impede o trânsito , sendo apenas possível circular os triciclos.. mas o meu passo era bem mais rápido que estas bicicletas, não vendo a vantagem, a não ser que estejamos muito carregados das compras.  


Vende-se de tudo um pouco e fui atraída por alguém a falar bem rápido, num som que reconheço das feiras, olhei, olhei e percebi finalmente que era uma gravação a enunciar todos os artigos que a loja tinha para oferecer…. lol.. Os engarrafamentos são constantes em diversas ruas, com os camiões de descargas em segunda fila,

 
 

ou em ruas que parecem menores que o próprio veiculo. Trabalhei 3 anos em distribuição e não consigo evitar o olhar mais atento a alguns pormenores, como o descarregar  deste carro. Uma pessoa no interior a lançar as caixas para o que está no exterior, quando este as apanha atira-as para o chão, fazendo esta pilha…

 

Na minha terra, muitos seriam considerados inaptos, aqui limitei-me a seguir a sra de sapatos brancos e calças de ganga à direita e passar por cima :D

Andei mais 2 metros e vi esta menina, tentei um sorriso quando se virou, mas não ajudou….

 
 
 

Quando deixei as ruas que circundavam o mercado, o meu nível de stress baixou, nem me tinha apercebido da adrenalina e barulho que estava a absorver. Os mercados sempre foram um dos meus locais favoritos e o que mais gosto é poder participar, como habitualmente já o faço em Léon, comprar e sair com os saquinhos na mão, conhecendo já as bancas :D

Segui, rumo às diversas igrejas e de facto são coloridas, posso estar esquecida mas não me recordo de uma igreja azul nas minhas memórias… 

 
 
 
 
 
 

E quando passava por esta igreja, na rua à direita um silêncio chamou-me à atenção. As ruas são bastantes ruidosas, os motoristas gostam de apitar, tanto, que julgo que já ninguém liga, aliás já cruzei ruas vazias em táxi, onde estes apitam, sem ter compreendido bem a razão :S
Agora este silêncio vinha de um cortejo funerário. Incrível como as pessoas o respeitam e deixam mesmo um grupo pequeno de pessoas, impedir o trânsito na rua, sem qualquer reclamação ou buzinão.  Não resiti e tirei uma foto. 

 

Já em Corn Island tinha assitido a um cortejo onde o caixão seguia numa carrinha igual, com apenas uma diferença, era um pouco maior, com cerca de 30 cm que saiam da carrinha, neste a porta traseira até estava cerrada….. 
Algo que não comentei, mas que é de uma beleza extrema são as carruagens funerárias que vimos em Granada, aproveito agora para partilhar…

Carruagens funerárias em Granada

Uma das datas que anseio, é o meu dia de anos. Não anseio muito entrar na barreira dos trinta, mas por coincidência faço anos no dia de Finados, ou dos mortos, dia 2 de Novembro e desde que em miúda vi no filme Assassinos (trailer):S, a cena em que ela segue o cortejo de celebração deste dia, fiquei curiosa por o viver na América Latina, este ano terei a minha hipótese :D .. É isto que gosto nos filmes, como em qualquer pedaço de arte, apesar de ser um filme de assassinos eu retive essa cena…

Nesta cidade temos também um mausoléu, dedicado à mãe de Rúben Dario, o grande poeta Nica, com um poema dedicado à sua falecida mãe. 


Em todas as localidades bem na praça central existe um monumento dedicado às mães e nesta terra não foi excepção...


Depois, meti-me num táxi  e fui ver o que o lonely planet indicava como um dos melhores museus de toda a Nicarágua, só o comentário é que me fez ir visitá-lo, porque é um museu que mostra a cerâmica indígena. Se existi algo que me não me atrai muito, é cerâmica. Talvez porque me recorde os tempos da feira em Setúbal, onde a minha mãe queria ir ver as loiças, quando eu só queria passear nos carroçeis e por mais de uma hora caminhávamos a ver porquinhos de barro e pratos com o nome da família para pendurar nas portas :s
No entanto, este museu surpreeendeu-me. Uma entrada que parece um terminal de autocarros que precisam de ser arranjados, percorremos uma lateral bem pequena e chegamos a uma praça com um edíficio novo, com ar condicionado e todas as condições iguais a qualquer museu na Europa. De um lado um teatro, do outro o museu. 

 

A entrada é 2 dólares com direito a guia. Quando a sra foi chamar o meu guia esperava um rapaz da minha idade, mas apareceu-me uma colegial de um 1,40m, com não mais de 14 anos. Mascava pastilha e olhava-me com um ar de frete. No entanto, após uma apresentação impecável, daquelas que não se vê por estes lados : “Boa tarde, o meu nome é Ruth, bem-vinda ao museu, serei a sua guia e espero que aprecie estes momentos onde lhe irei explicar um pouco a evolução do nosso país, através de artefactos localizados, nas suas diferentes regiões, que nos contam um pouco mais da nossa história, com principal incidência no período Pré-Colombiano” .. ok a incidência fui uma palavra acrescentada por mim, mas pode bem ter dito algo do género, o meu queixo caiu ao inicio e fiquei rendida de imediato… 
Vários nomes complicados que me explicou, recorodo-me da evolução da monocromia até a policromia e a associação com a evolução da civilização…Pensei que devia ser um castigo a rapariga ter tanta informação, com os nomes mais caprichados e que eu teria dificuldade em recordar-me e que já esqueci…. Mas algumas das peças valem bem a pena e tentei demonstrar o maior interesse apesar de a minha parca memória ter retido pouco, retive mais a subtileza e destreza da catraia, que o resto… mas ainda terei muitos museus onde me poderão contar tudo de novo, não sei se encontrarei outra guia tão espevitada para a idade :D ... ou se noutro lugar não será considerado exploração infantil...

 
 

Numa cidade onde não vi turistas, cheia de vida, fiquei surpeendida.... e por momentos traí Léon pensando: que bom teria sido a experiência de viver mais tempo por estes lados!!!!



Post by Helena


+ Fotos

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A criança a dormir por baixo da mesa
 
 
 
 
 
 
 
 
Este castelo é uma casa de jogos!!
 
 

2 comentários:

  1. Incrível como tudo isto é tão belo...espreito por curiosidade e acabo por me perder nos teus escritos e nas belas imagens que os acompanham :)). Aqui deixo parte de um poema que tão bem caracteriza esta tua "e minha" aventura, de Ana Mafalda Leite "livre trânsito...percorro um lento caminho
    não tem rumo nem destino
    sigo muito devagar
    não sei onde
    nem como
    nem quando
    quero ir ou chegar
    (...)
    vou neste caminho que não sei
    porque tudo o que aprendi me não chega
    (...)."

    Beijinhos, muitos
    Cláudia

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  2. Ola Claudia,

    adorei o poema, mt obg ;)

    Bjs,
    Helena

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