quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Léon

À relativamente pouco tempo, completámos 6 meses na Nicarágua. Por muitos momentos, apenas tínhamos experienciado os vulcões, a praia e a cidade de Léon. Agora, percorremos já grande parte da Nicarágua, mas sempre que nos perguntam de onde somos, instintivamente respondo – Léon. Apesar de já termos deixámos de ser voluntários à mais de 1 mês e esta já não ser a “nossa casa”…
Aqui sentimos que conhecemos as pessoas, os truques e os lugares… e como qualquer pessoa que mora próximo de algo, existem ainda ruas que não percorri, com a ideia que: “..ainda temos tempo…”. Agora que vamos sair, vão permanecer desconhecidas…
Um dos locais que quase perdemos foi o El Fortín. Apenas visitado nesta última semana, um lugar onde conseguimos ter a percepção do verde que rodeia a cidade, assim como os vulcões.

 
 
 

Agora, vou tentar, resumir num post, marcos da nossa nova ex-cidade!!!

Quando chegámos, o nosso objectivo era ficarmos na casa do Quetzaltrekkers, pelo menos o meu… E enquanto esperávamos por uma vaga, ficamos alojados no Hostel El Albergue. Ainda a digerir onde estava, o que tínhamos feito, e com toda a cidade por explorar, uma das primeiras acções foi informar que já tínhamos chegado e que estávamos bem!! Percebi que tinham wi-fi e pedi a password. O Sílvio, que trabalhava na recepção do hostel, simplesmente apontou para a parede….


Pelo desenho devia ter reconhecido de imediato, como não me dizia nada, perguntei quem é? A resposta foi simples : “O maior/melhor poeta da Nicarágua!” , mesmo assim permaneci na ignorância….
Neste momento, seria impensável ainda não conhecer uma das maiores figuras do país – Ruben Dario. O poeta que alterou a literatura espanhola….
Numa das bancas de venda na rua, adquiri alguma da sua poesia e conheci a pequena estrofe que permanece neste blog, bem por baixo da imagem inicial…

Uma das outras figuras que seria impensável desconhecer é Sandino. A figura da libertação da Nicarágua. 

 
 

 Parque com grafitis alusivos à Revolução
 
 
 
 

Um local onde podemos aprender bastante, é num dos meus museus favoritos da cidade: O museu da Revolução. 

 
 
 
 
 

Este museu não vem referenciado nos guias, por isso faço questão de indicar a todas as pessoas que passam por Léon. De museu tem de facto pouco, é apenas uma sala com recortes de jornais, mas são esses recortes e a companhia de um Sandinista (militante do partido – Fronte Sandinista Nacional Libertação- FSNL) que nos fazem compreender um pouco mais a cultura Nica. Léon sempre teve grande influência na história da Nicarágua, foi a sua primeira capital é até aos dias de hoje é conhecida como a cidade revolucionária. Foi aqui que o primeiro ditador Somoza foi assassinado, por um poeta,

A casa onde Somoza foi assassinado

foi aqui que se deu o massacre que originou a formação do partido, que após algumas alterações se encontra hoje no poder (FSNL). Durante uma manifestação estudantil, contra a ditadura, 4 pessoas foram assassinadas…e  ainda nos dias de hoje, vemos diversas alusões a esses dias….

A esquina onde foram assassinados
 
  
Monumento dedicado à Revolução

Mas ainda não tinha tido tempo para experimentar e sentir tudo isso, quando pela primeira vez senti: Estou na América Central! Como mencionei no post anterior, para mim significava música e cor. 


Num dos bares mais característico da cidade (Via Via), senti pela primeira vez a música latina, no concerto que tem lugar todas as sextas-feiras e que por muitas vezes numa mesa regada de Toña, Vitória ou Flor de Caña (são as mulheres da Nicarágua ou a cerveja, cerveja e o rum), muitas conversas divagaram. Muitas foram as diferentes noites, mas não consegui esquecer a noite em que enquanto a banda tocava, a luz faltou. Ninguém saiu do bar, mesmo após não servirem mais nenhuma bebida e às 23h30min como pontualmente, começaram a pedir às pessoas para sair. Nessa noite a música não tinha sido suficiente e continuámos até ao After Spot, conhecido entre os turistas mais noctívagos : o CamaLéon… 


..dez pessoas permaneceram à porta a conversar por vinte minutos, até que a luz regressou e fomos para a minúscula pista. Tão pequena que enchia cada noite que o Quetzaltrekkers em peso ia dançar. Nessa noite, após deixar a energia na pista, ao som do habitual Reggaeton, salsa, ou últimos hits de música electrónica pimba (exº Black Eye Peas – Dirty dance remix), quando saímos demorou apenas 20 segundos que um veiculo a toda a velocidade nos baptizou com a água da chuva que nos tinha cortado a luz por tanto tempo. Nem um centímetro quadrado permaneceu enxuto, aquilo que tenho na memória como a pior molha que alguma vez apanhei…. A segunda foi quando fui comprar uma manga ao virar da esquina, e quando regressei chovia tanto, que tinha água pelo meio da das barrigas das pernas….

Quando chove nesta terra não é para brincadeira. Quando chegámos, esperamos muito, durante a temporada da seca, até sairmos para a rua a dançar na primeira chuva que sentimos, em Maio…. Ontem um raio caiu no outro lado da rua, no pára-raios colocado para isso mesmo. O barulho era tão elevado que não conseguíamos falar, nem escutarmo-nos, mas assim que a chuva para, as pessoas voltam a correr de t-shirt e chinelo no pé, por toda a cidade.

A minha casa no QT num dia de chuva

Nesta cidade, o único baralho que faz concorrência aos trovões, são os foguetes. Quase todos os dias os ouvimos, as razões: desconheço!! mas qualquer pessoa acende um foguete e comemora, desde um casamento a um nascimento. Uma das alturas que mais foguetes ouvimos foram quando a catedral foi elevada a património mundial da Unesco e na semana santa.

A semana santa é a maior festividade que temos na Nicarágua. Todos os turistas ficaram retidos na cidade de Léon e muitos procuravam caminhadas para essa semana, pois as empresas de transportes organizados (sem contar com o chicken buses) estavam à muito esgotadas. Em Léon, todas as pessoas festejaram na praia, numa das melhores festa que presenciei, mas antes de a semana terminar em festa, começou com a celebração ao San Benito. Finalmente conheci o santo que dá nome ao comedor, onde quase todas as noites me regalo à ceia (por menos de 1,5€). Nesta festa única, decoram-se as ruas com desenhos religiosos e todas as velas são negras, da cor do Santo.

 
 As decorações
 
 
 
Na construcção dos paineís

A catedral, impõe-se no parque central. Uma das maiores e das mais bonitas da América Central, com uma vista deslumbrante, sobre vulcões e as outras igrejas. 

 
 
 
 
 
 

As Vistas

Igreja La Recoleccion
Igreja El Calvario

Uma das igrejas que reconhecemos é a igreja da Recoleccion. Recordo-me que quando tinha acabado de chegar, pensei que essa era a catedral e apesar da sua beleza, estava muito desiludida, porque não tinha parque. 

 
 

Outra das igrejas é a do Calvário, para mim muito bonita, com os crucifixos à entrada..

 
 
 
 

Mas, felizmente o parque central existe e é uma das zonas com maior vida da cidade, além dos mercados, e a catedral é mesmo em frente, felizmente não era a igreja que pensava inicialmente :D

 
 
 
 
 
 
O parque visto da Catedral

Quando nos preparávamos para sair de Portugal deixámos e deitámos fora muitos do itens que teremos de comprar de novo, quando assentarmos..!!!, pois são preciosos e o cantinho na casa dos pais não permite a quantidade de “lixo” que coleccionamos ao longo do tempo. Quando ainda estava em Lisboa, uma das partes mais fáceis foi limpar o armário, sem sentimentos, consegui encher 5 sacos, entregues na Humana. Uma das piadas que costumamos contar é que despachamos o armário, para o virmos comprar de volta na América Central… e em Léon existem muitas lojas, onde após mergulharmos em algo parecido com a Zara em tempos de saldos, encontrarmos uma saia Vera Wang, ou outras pequenas preciosidades que poderemos adquirir por 1 euro…. Ok não fui a  sortuda que a encontrei, mas deviam ver a excitação da americana que chegou a casa com o seu novo artigo :D

Nesta cidade, não existe nada que não se encontre, principalmente se são bugigangas…
Em cada esquina alguém está a vender alguma coisa e existem ruas apenas preenchidas de vendedores…. Apesar de tudo ser muito acessível, como em toda a Nicarágua nada se faz de borla, tudo tem um preço.. existem até pessoas com as balanças que temos em casa, que por 3 cênt, permitem que as utilizemos…

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Numa das avenidas principais (Av Ruben Dário), encontramos o que para mim é o melhor museu da Nicarágua! O de Cerâmica em Chinandega também é muito bom, mas gosto muito mais deste tipo de arte. Não são permitas fotos, apenas aos jardins. No entanto, têm na internet todos os seus quadros (link).  Para mim a colecção de 7 pinturas de Armando Morales, A saga de Sandino, são das melhores. Galeria Ortiz-Gurdian.

 
 

Se bem repararam indiquei o nome da Avenida. Pois aqui está algo diferente por esta Nicarágua. Não existem moradas! Ok existem, mas diferente do que conhecemos, pois apenas algumas ruas são nomeadas. A exemplo identificativo aqui fica a minha morada oficial em Léon: A 1 quadra e meia a este da igreja da Recoleccion, em frente à Union Fenosa…. As cartas chegam, agora também é verdade que as abrem antes, o Thiago uma vez esperava uns livros, recebeu também umas t-shirts extra e uma agenda cor de rosa…. Quando abriram o pacote, colocaram os pertences de alguém no seu….

Outra das características desta cidade, foi como referi à pouco a imensa chuva. O que torna curioso e levei algum tempo até descobrir como funcionaria o sistema de esgotos, pois não existem quase nenhuma sarjeta. O que existe por vezes são buracos a céu aberto, em que poderá morrer uma pessoa, na altura daquela queda. No entanto não imaginava como poderia ter a capacidade para escoar uma chuva intensa. A verdade é que assim que para de chover, a água desaparece rapidamente. As ruas estão feitas com ligeira inclinação, quando chove toda a água corre para o rio. Os nicas gostam de mandar para o chão tudo o que têm nas mãos. Na epóca das chuvas temos as ruas limpas, em contraste com a sujidade que presenciei ao início….

Continuando… a 4 quadras sul e ½ quadra oeste, junto à ponte de guadalape, e uma das margens bem sujas de um dos rios, numa antiga prisão, encontramos outro dos meus museu favoritos da cidade. Esta prisão é um marco importante na época da ditadura, que para além do Fortin, continha os presos políticos. Aí cometeram-se as maiores atrocidades humanas, como obrigar o preso a engolir um botão preso num cordel, sendo este depois puxado de volta à superfície. Ambos os locais foram tomados pelos cidadãos, na revolução que tirou a família Somoza do poder.
Actualmente a antiga prisão foi convertida num museu que nos faz rir, pela sua estrutura, pela falta de qualidade e pelo melhor contador de histórias que existe. 

 
 
 
Ao centro a sua fundadora

 

O museu tenta mostrar-nos os mitos e lendas da região, como a TOMA TU TETA, uma sra muito feia e muit grande que asfixiava os homens colocando a sua teta na sua boca. As tetas impregnadas por uma substância, proveniente de uma planta, deixavam marcas na garganta dos homens, sendo de imediato reconhecidos como a última presa desta caçadora, quando sobreviviam…. Existem diversas lendas, outra é a do duende, que em troca de barras de outro ficava com a alma das pessoas. Diz-se que muitos locais não percorrem a estrada que liga a Subtiava, às sextas-feiras, porque é quando o duende aparece…

 

O bairro de Subtiava foi em tempos uma cidade, que após a mudança de Léon em 1610, começou a ter outra cidade bem maior nas suas redondezas. Agora esta antiga cidade, desde do inicio do sec XX, é já um dos bairros de Léon. Aqui encontramos a igreja mais antiga de toda a América Central. No entanto, este bairro conservou por muito tempo algumas leis próprias, pelo seu valor histórico e a grande união entre os habitantes indígenas. Sendo que só à pouco tempo é possível vender uma habitação, antigamente apenas passava entre as gerações dentro das mesmas famílias…

 
 

Léon continua como a capital universitária e um pouco à semelhança de Portugal, tem nas suas quintas-feiras uma das melhores noites, a noite da salsa. Continuo a não articular bem ambos os pés, neste ritmo elevado, mas por muitas vezes tentei.
Nesta cidade que ainda consegue manter o equilíbrio entre turistas e locais, vivi tantos outros momentos que jamais conseguiria colocar num post.

Não resisto e tenho de contar que ouvi a melhor teoria para os gays no museu mitos e lendas, no melhor contador de histórias da cidade, não podia deixar de ser, então ele dizia assim: "Em Léon existem muitos homens gays, porque comem galinhas, está nas hormonas que colocam nas galinhas o problema, por isso muitos pais de família não comem galinha"... depois de me rir, percebi que estava a falar a sério.....


Continuo a sentir que esta é a melhor maneira de viajar. Mas está na altura de um novo passo e agora vejo-me sem casa, ou quarto e tudo o que possuo está às costas na mochila… 



Post by Helena


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