sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ometepe

Escrito dia 12/08/11
Ia iniciar o ritual para dormir, no entanto parei e apeteceu-me, vou antes escrever... O ritual para dormir consiste em após a habitual lavagem dos dentinhos, deixar-me embalar com uma serie. Habitualmente, faço-o deitada na cama apenas com a luz do portátil. Agora, estou em Ometepe, a minha nova casa e por incrível que pareça este ritual teve de ser alterado.

Ainda em Léon e carregada de series no disco externo que trouxemos de propósito, recordei-me do Prision Break. Faltava-me apenas a última temporada, a 4ª série e por curiosidade fui ver um episódio. Agarrou-me de tal forma que passei todo o sábado (26/03/11) no quarto a devorar os episódios. Eram 15h quando pensei em levantar-me e ir passear, reflecti e disse para mim mesma: O objectivo de fazer esta paragem não é para aproveitar e fazer o que bem me apetece??? Tens todo o tempo para passear, se hoje te apetece ficar o dia todo deitada, fá-lo!!! Obviamente que não sabia que no dia seguinte iria sofrer a queda que me obrigou a ficar na cama por muito mais tempo….. e desta feita contrariada.

Agora, porquê é que em Ometepe tenho de alterar o ritual?? Por causa daqueles insectos voadores que deixam qualquer “gringo”, com sinais de uma guerra em que somos vencidos e marcados escandalosamente. Os mosquitos!!! Tememos a málaria, o dengue e todas as outras doenças passíveis. Tomamos vacinas e comprimidos. Vimos carregados de repelentes, vestimos calças e tentamos cobrir a maioria do corpo, mas mesmo assim não os superamos. Ora se não nos mordem, não nos deixam efectuar o ritual antes de dormir, pois a luz que brilha do monitor, atrai-os de uma forma, que sem a rede mosquiteira passo todo o tempo a sacudi-los e dou-me obviamente por vencida.

Esta não é a única alteração, aliás estamos a testar a nossa capacidade de adaptação…tudo desde que cheguei a esta ilha  “entre dois montes” ou melhor esta ilha de dois vulcões. 


A palavra Ometepe designa a sua própria origem, onde várias erupções em dois vulcões distintos, mas próximos, ligou-os através das correntes de lava e agora aproximadamente 30 mil pessoas habituam nas suas encostas. No entanto, apesar de para muitos ser a sua casa, nunca nos esquecemos através das placas espalhadas que este pequeno paraíso, nada mais é senão, dois vulcões unidos, rodeados por um lago.

 

Viver é diferente de visitar, cada vez me agarro mais a esta tipologia de viagem, e decidi parar um tempo por aqui. O destino era a finca El Zopilote, mas a falta de simpatia quando chegamos e a boa companhia do nosso amigo Zack, levou a uma mudança de planos. Em vez de nos hospedarmos naquela Finca, ficamos no hostel Santa Cruz. 

Vulcão Concepcion, pôr do sol (vista do hostel)
Com o Zack partilhamos os primeiros 2 dias, mas a minha ideia de permanecer e ser voluntária levou-o a abandonar-nos mais cedo. A razão simples: primeiro localizei outra finca para ser voluntária, mais atenciosos, depois localizei uma casa Nica para passarmos a restante estadia. Assustei-o, quando lhe mencionei que as paredes não eram totalmente fechadas. Convencer o Thiago ainda é uma tarefa por concluir e bastante difícil, mas confesso que para mim também não tem sido o mais fácil.

 
 
 
 
 

Primeira noite, dia 11 de Agosto, a casa estava significativamente mais limpa de quando a visitei, mas o facto que ser “aberta” também me deixa de pé atrás. O facto de ter mais de 100 mosquitos no tecto quando me deitei, levou-me a acordar diversas vezes, ora de medo ou para trocar a roupa, pois totalmente vestida e também com o saco de cama (não desenhado para estas temperaturas) transpirava constantemente. Hoje estou mais calma, mas os cerca de 100 mosquitos continuam lá. Percebi volvidos dois dias, que estão mortos, possivelmente morreram colados na telha devido ao calor proveniente da luz. Truque antes de deitar: não aceder a luz para não atrair mais mosquitos e se possível deixar outra luz acesa, como a da cozinha!!!

Mas não é tudo, a casa de banho é mesmo o pior….simplesmente nojento…o Thiago prefere utilizar a palmeira no jardim. Eu também o faria mas não sei o que é pior.. aquela sanita=balde ou deixar-me ao fresco junto à água, onde ontem um local me disse que é o local onde as cobras gostam de estar :S

 
 
 

Ontem iniciei o voluntariado. Comecei por deitar a baixo diversas árvores….não devemos plantar e não matar!??!?? Verdade, mas estas atrapalham, então depois de as cortarmos, colocamos os seus ramos em redor das outras e serve como adubo natural…afinal estou numa quinta orgânica :D

Aventuras na quinta além de descobrir que me mudei para junto do lugar favorito das cobras: 1º: quando os fui visitar e indicar a minha vontade em participar, estava uma cobra na casa de banho :S, 2º: no dia que comecei um dos voluntários foi mordido por um lacrau…..a minha ansiedade para o segundo dia, é uma ansiedade diferente do normal….quanto às instalações, sem dúvida que não conseguia lá dormir. Felizmente fui sozinha, se tivesse levado o Thiago tinha-me obrigado a sair deste “culu do mundo”, como os Espanhóis voluntários lhe chamam. Na finca, as habitações dos voluntários, são uma cama feita de bambu com uma rede mosquiteira, debaixo de um telhado de folhas de palmeira. 3º: quando regressava de um dos quartos o responsável disse-me: queres ver uma tarântula??? Ali está o buraco onde se escondem (esta ainda não partilhei com o Thiago, aracnofobia…melhor ficar segredo até ler no blog…)
Agora Thi, a nova casa não parece muito melhor??? 

Escrito dia 15/08/11
Primeiro fim-de-semana, trocamos de chip, deixo de lado a trabalhadora, coloco a máquina fotográfica ao peito e partimos para visitar…Alugámos duas bicicletas, porque ao domingo não existem autocarros a sair da nossa localidade (Balgue). Recordei os tempos do caminho de Santiago (link), mas a forma física já não é a mesma, mesmo assim fizemos 60 km. Hoje tenho dificuldade a sentar-me, onde está o meu acento de silicone, especialmente desenhado para a anatomia feminina??? E a bicicleta em que as mudanças não saltam sozinhas??? Tive de fazer toda a viagem a segurar o carreto, se me doía a mão direita da Machete (trabalho na finca), a esquerda não ficou melhor….A terminar a viagem ficamos sem luz. Para mim o maior defeito da Nicarágua nestes quase 6 meses é que escurece às 18h. Às 19h é noite cerrada. Vence o facto de ter presenciado a minha primeira cobra viva!!! Já mencionei que tenho pavor??!?!! Pois a sorte é que ia na bicicleta e ela fugiu….
Então às 19h era noite cerrada e eu a tentar percorrer as “estradas” sem lanterna…
Compramos uma lanterna/isqueiro por 30 cênt e a empurrar a bicicleta na chuva lá chegamos ao destino…As estradas em Ometepe não são muito facilitadoras deste trabalho, principalmente a falta de uma (no verdadeiro sentido, ou pelo menos plana e sem pedras) entre Santa Cruz e Balgue, a nossa localidade na ilha :S

 
 

Olho agora para a direita, enquanto escrevo, tenho uma família a pescar no rio, 

 

o peixe amanhasse na pedra junto ao rio, que quando não serve para este efeito, serve de tanque para se lavar a roupa. Nesta casa, o lugar mais lógico que encontrei para lavar a roupa foi o lava-loiça (que felizmente existe :D), mas antes enquanto discutia com o Thiago os possíveis lugares, disse-lhe vai lavar ao rio. A resposta directa do Thi foi: “não quero poluir o lago”. A nossa inocência!! Dizemos o que nos está incutido, mesmo antes de raciocinarmos. Não existem esgotos, existem uns tubos que direccionam a água para o caminho mais rápido para o lago. Hoje quando o nosso senhorio (Tony) veio colocar uma rede na porta principal para o quintal, perguntei-lhe algo que já sabia a resposta…mas mesmo assim fi-lo : “Que fazemos ao lixo?”…”Queimam-no”…. Quando caminhávamos de bicicleta quase sem luz, pisamos alguns restos de lixo queimado, na estrada principal…menos possibilidade de queimar a casa…muitas são de madeira….

Escrito dia 22/08/11
Neste momento, estou prestes a sair da ilha, amanhã rumamos para San Juan do Sur e voltamos a ser turistas a 100%. No entanto, aquilo que queria com esta estadia foi totalmente alcançado. Neste momento já contei a história da tarântula ao Thiago, que já mata aranhas sem reclamar e com uma indiferença que só vê-lo. Não tinha ideia mas existem aranhas que saltam … quando estava a tentar matar uma aranha que se encontrava junto ao meu necessaire, levantei o chinelo e quando o baixei ela saltou por cima…e pulando, lá desapareceu….

Em relação à casa, mais más notícias. Desta feita fomos assaltados. Roubaram-me o champoo e o creme para a cara (da casa de banho exterior) …. E hoje quando me dirigia para casa estava a comentar com o Thiago que as botas que trouxe e que se encheram de lama, no vulcão maderas, iam ficar pela ilha. Talvez as coloque junto à estrada, assim se alguém as quiser poderá levá-las. A conversa terminou por aí, pois coloquei a chave à porta e as botas tinham desaparecido…. Deixei-as junto à rede.
Quando fizemos o vulcão com o Tony,  este indicou-nos que as pessoas roubam as cordas de ajuda no caminho…perguntei-lhe a razão e não hesitou em dizer-me que por necessidade, “as pessoas só roubam quando têm necessidades”… espero que as botas sirvam para alguém que tenha necessidades e um pé pequeno…… entretanto pendurei os calções na porta…..

No passado domingo quando fui finalmente ver os petróglifos que me escaparam na subida do maderas, ia a caminhar quando passou um sr de mota e me deu boleia. O Thiago tinha voltado para trás, eu seguia a estrada que liga Balgue até Santa Cruz, enquanto o Eng Manuel passava. Foi a primeira pessoa que conheci na e da Nicarágua, que me disse que tinha estado em Lisboa, muito tempo atrás ainda no tempo de Somoza. Por norma quando digo que sou de Portugal, a maioria das pessoas nem imagina onde fica, “muita ingnorância aqui nesta Terra”, indicava-me.. Depois de algumas trocas de palavras e conversa sobre o seu tempo na Europa contou-me a seguinte história: …Conheci laixes. Lagos? Não a cidade com o porto…Leixões??? Isso mesmo. Estava na Alemanha e atracou um barco em Portugal, nesse porto, carregado com armas para Somoza, proveniente de Israel….Fui até Portugal para tentar convencer o porto a não deixar seguir o barco e felizmente retiveram-no por três meses…. :D
Sandinista, estudou na Alemanha e percorreu a Europa à boleia, diz que apenas os Suíços nesse tempo não davam boleia e ia morrendo junto a Logano, congelado, felizmente passou um Italiano…..
Depois, segui e finalmente vi os Petróglifos,

 
 
 

com a ajuda de um guia que estava à espera do seu grupo que tinha subido só até ao mirador…Espertos, é onde a vista acaba , para quê mais?!?!!? O bosque, é verdade :S
Entretanto explicou-me um pouco sobre os símbolos nos petróglifos e perguntou-me se tinha visto o da sra com a serpente, quando subi o maderas… “nem por isso”, respondi-lhe…. E subiste à àrvore no topo onde se vê a vista?? É melhor pararmos por aqui…aí Tony, Tony :S !!!!

Agora, porque é que segui sozinha para ver os petróglifos?... porque o Thiago já tinha visto comigo outros petróglifos, na finca magdalena e estava cansado da última noite :D
Tudo começou no sábado anterior, a música estava muito alta, mas afinal era fds. Agora de onde viria a música??? Tivemos quase para sair e ir à procura, mas imaginamos que fosse alguém a brincar com a sua aparelhagem…Afinal, era mesmo uma festa e este sábado haveria outra… Como tem sido habitual neste últimos dias, tem chovido bastante ao final da tarde, início de noite… Este sábado não foi excepção e quando deveríamos ir até à festa chovia a potes, apenas acalmou por volta das 23h, mas como a música ainda se ouvia, decidimos ir ver como estava a festa…. A festa estava basicamente morta, estavam 10 pessoas apenas e dançavam a pares. No entanto, quando chegamos, e pelo facto de sermos turistas e branquelas, animamos e agitamos a festa. O Thiago já dançava a lambada e eu tentava fugir do Nica que só dizia que eu dançava muito bem….Tens um belo sorriso e isso é suficiente para se dançar bem… belo elogio às minhas capacidades motoras!!!! Fomos imediatamente convidados para uma festa no dia seguinte, pela sra com quem o Thiago partilhou a sua meia cerveja, que terminou de um gole e enviou a lata para o chão… Já me tinha feito o mesmo, mas a minha tinha menos líquido, na cerveja do Thi foi ainda mais impressionante… Partilhei tb um cigarro e tiraram-me 3!!! Mas afinal somos a alma da festa :D Escapamo-nos quando o Thiago pensando elogiar a sra lhe atribuiu 40anos…mas tinha só 35…..Ops!!!!

Para finalizar a nossa estadia, fomos andar de kayak pelo rio Isthiam, mas a verdade é que já eram 12h30min, ainda não tínhamos almoçado, a viagem demorava 3h e o autocarro passava daí a exactamente 3h…decidimos não arriscar, fomos até um cyber e ler o que se passa pelo mundo :S

…entretanto, enquanto tento escrever estas últimas palavras sacudo-me e tento afastar todo o tipo de bicho que me tenta devorar….gostei..mas estou feliz em deixar Ometepe ou melhor a sua fauna!!!!

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Post by Helena

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